Hoje vou falar sobre um tema muito polêmico, o desaquecimento vocal!

Este tema é polêmico pois sempre causa discussão entre profissionais do canto em relação à sua importância, funcionalidade ou necessidade.

Se procurarmos o verbo desaquecer no dicionário encontraremos como seu significado “fazer esfriar”, e é aí onde começa a confusão sobre o termo. O desaquecimento vocal não tem nada a ver com um esfriamento, pois não é um evento que seja relacionado com a temperatura e sim com o posicionamento das estruturas usadas para a fonação.

Como já comentei no post sobre a voz falada de um cantor, quando não estamos cantando continuamos a usar nosso instrumento para falar, e é exatamente em função deste uso contínuo que devemos cuidar de como nossa fala será produzida.

Quando cantamos, posicionamos diversas estruturas do trato vocal para que possamos ter uma determinada qualidade sonora. Isto também é chamado de ajuste vocal. Durante o aquecimento vocal,  além de preparar os músculos e as estruturas para serem usadas, também já são feitos os ajustes vocais que serão usados durante o canto.

Depois de cantar, então, devemos voltar as estruturas do trato vocal para os ajustes usados na fala, e é essa volta que é o desaquecimento vocal.

Imagino que todos já tenham passado pela seguinte situação pós canto: ir jantar em um restaurante (principalmente se for um grupo com vários cantores pós performance) após uma apresentação e reparar que se está falando muito mais alto do que todas as outras pessoas no local. Essa fala mais alta que o normal é um ótimo exemplo de um ajuste do canto se mantendo durante o período da fala. Essa manutenção de ajustes pode ser prejudicial para o cantor, pois uma voz mais volumosa e firme na fala causará muito mais desgaste em todo o trato vocal e principalmente nas pregas vocais em si, principalmente em um momento pós performance em que a voz já foi muito requisitada e deveria ter o seu merecido repouso.  É nesse momento que entra o desaquecimento, para trazer a voz novamente para o ajuste de fala e suavizar a atividade das pregas, permitindo assim que elas se recuperem com maior facilidade.

A auto-observação e o bom senso são as chaves para saber quando será necessário um desaquecimento vocal ou não. Caso você não vá usar a voz após o período de canto ele se torna totalmente desnecessário, por exemplo.

Agora que já entendemos a razão de fazer um desaquecimento vocal vou explicar como ele pode ser feito:

• O silêncio é uma forma de desaquecer, ficar em silêncio após uma performance ajuda com que os ajustes vocais saim da “posição canto” e voltem para a “posição fala”, porém ficar em silêncio após uma performance não costuma ser algo fácil, normalmente recebemos diversos cumprimentos do público que requerem diversos minutos de fala 😉 ;
• Fazer suaves vocalizações no seu tom normal de fala é uma forma excelente de voltar ao seu ajuste de fala (para saber qual é o seu tom de fala, em um dia de voz fria, sem ter cantado ainda, fale “bom dia!” algumas vezes, segure o A final e veja qual a nota que você estava emitindo: em torno dessa nota está o seu tom natural de fala), uma bocca chiusa (Hmmmm) bem suave em um intervalo de terça ou quinta ascendente do seu tom natural de fala por alguns minutos;
• Alguns outros exercícios podem ser escolhidos com essa função (pegunte ao seu professor de canto qual seria mais adequado para o seu caso específico, ou para um fonoaudiólogo caso não consiga deduzir sozinho o que é melhor para o seu caso. Uma importante forma de pensar para entender o que pode ser feito para esse retorno é observar o caminho inverso: quais foram os movimentos que você fez para se preparar para cantar? Para voltar ao ajuste de voz, o caminho será inverso a ele. (Lembre-se de que você deve ser sempre o responsável pela sua voz, e por isso deve saber sempre o que está fazendo e qual a finalidade de cada exercício executado).

Nunca imite um movimento de outro cantor, cada instrumento é diferente

e pode ter diversas alterações devido a conformações musculares próprias. 

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