Você estuda, estuda, estuda e consegue dominar vários movimentos técnicos, sente que está progredindo no domínio da sua voz, então faz uma apresentação…e no palco parece que nada funciona!!! Sua respiração fica diferente, seu corpo parece que não obedece e a qualidade vocal que você atinge não chega nem aos pés do que você consegue fazer em sala de aula….. Parece que não era a sua, era outra voz…..
Antes de mais nada fique calm@!! Isso acontece com todo mundo!! Lembre-se de que nosso instrumento é o nosso corpo e qualquer alteração corporal também altera este instrumento . Quando estamos no palco, seja pelo nervosismo, seja pela pressão de acertar tudo, seja pela emoção de estar lá, pela emoção da música, etc, é comum que o corpo esteja alterado e não seja o mesmo de quando você está tranquilo estudando em casa. “Isso quer dizer que o que eu me mato de estudar em casa então não vale de nada?” Também não… vamos com calma para entender como superar essa questão.
Não vou falar hoje sobre a questão do nervosismo prejudicial no palco, deixarei para falar mais para frente (mas não deixe de ver o exercício de respiração para se acalmar aqui), hoje o importante é compreender que mesmo com “os nervos sob controle”, estar no palco é um momento de muita pressão e por isso o nosso corpo libera um hormônio chamado Adrenalina, que gera diversas alterações. As principais delas são:
- Aumento dos batimentos cardíacos;
- Aceleração do fluxo de sangue para os músculos;
- Ativação do cérebro, deixando-o mais alerta, com reações mais rápidas e estimulando a memória;
- Aumento da pressão arterial;
- Aceleração da frequência da respiração;
- Abertura os brônquios pulmonares;
- Dilatação das pupilas, facilitando a visão para ambientes escuros;
- Estímulo da produção de energia extra, pela tranformação do glicogênio e gordura em açúcares;
- Redução na digestão e na produção de secreções pelo trato digestivo, para poupar energia;
- Aumento da produção de suor.
São estas alterações que fazem com que tenhamos a sensação de que a voz está diferente, que é outra voz, pois o corpo foi alterado pela presença desse hormônio.
Para facilitar a compreensão eu costumo chamar estas duas condições de Voz de Casa e Voz do Palco, como se fossemos possuidores de duas vozes (corpos) diferentes, pois temos que aprender a dominar ambos.
Na minha opinião, o ponto mais importante aqui é construir uma técnica sólida e baseada na compreensão de como aplicá-la no corpo, tendo como base uma grande propriocepção, para que o estudo feito em casa seja apenas recalibrado para a Voz do Palco. A verdadeira compreensão de como e porque um movimento deve ser feito permite que, mesmo com alterações do corpo seja possível não “desaprender” a cantar, pois tudo será uma questão de calibragem e adaptação.
Tendo claro como isso deve ser feito, é importante entender também o conceito de “horas de voo” (esse termo é usado para avaliar a experiência de pilotos de avião, computando quantas horas ele passou pilotando). Mesmo estudando muitas horas por dia, é necessário praticar em situação de palco (seja em apresentações profissionais, amadoras, para a família, etc), para aprender a aplicar as técnicas estudadas também na Voz do Palco. Isso não significa que eu esteja dizendo que um estudante deve dar um passo maior do que pode e aceitar cantar algo que ainda que esteja além das suas condições em público e muito menos se expor para a comunidade musical cantando algo sem qualidade, mas existem diversas condições que são importantes para adquirir horas de voo (concertos gratuitos, em ambientes despretensiosos são muito fácil de serem conseguidos).
Simular esta Voz de Palco é possível mas, assim como no exemplo do piloto de avião treinando em um simulador, esta simulação ajuda bastante mas não é igual à “hora do vamo vê”. Um jeito de simular essa alteração corporal é praticar alguma atividade física intensa e logo em seguida começar a cantar tentando controlar esse novo corpo (o corpo do palco) alterado pela presença da adrenalina. Corra pela sua casa antes de estudar e observe quais alterações corporais encontrou e aprenda a dominá-las.
Nunca imite um movimento de outro cantor, cada instrumento é diferente
e pode ter diversas alterações devido a conformações musculares próprias.
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