mitos-e-verdades-sobre-a-respiracao-nos-aerobicos-inspirar-ou-expirar-rapido-pela-boca-ou-narizQuando cantamos, temos muitas coisas para pensar ao mesmo tempo: respiração, posição, dicção, interpretação, afinação, entonação, tempo etc… Ao estudar, se tentarmos encarar todos esses quesitos de uma vez, a tarefa vai parecer impossível, mas, como um pianista que estuda primeiro a mão esquerda e a direita isoladas, os cantores também devem estudar esses itens separadamente para depois juntá-los.

Hoje falarei do estudo separado da respiração (e de seus movimentos técnicos) que deve ser feito ao estudar uma música. A ordem dos estudos pode ser alterada sem muitos problemas, mas eu recomendo fortemente que, ao começar a estudar uma música, se comece pelo estudo do ar.

A escolha

Ao começar a estudar o ar na música o primeiro passo é escolher onde serão feitas as inspirações. Essa escolha é muito importante e deve ser anotada na partitura. Se, durante os próximos estudos você chegar à conclusão de que aquelas inspirações sobravam, faltavam ou que estavam no lugar errado, elas podem e devem ser mudadas, alterando novamente na partitura. O que não pode ocorrer é que cada vez que você for cantar ou estudar partes da música as inspirações estejam em um lugar, isso só causará instabilidade e descontrole à sua execução.

A escolha de onde inspirar envolve vários fatores, sendo que todos são escolhas pessoais do intérprete. A única regra que deve ser seguida é a de não inspirar no meio de uma palavra, a não ser (como toda regra tem uma exceção) em alguns casos de coloraturas muito longas feitas no meio de uma palavra. Sendo respeitada esta regra, as inspirações podem ocorrer onde o intérprete achar melhor. Para definir onde elas devem ocorrer, você deve levar em consideração dois aspectos diferentes: sua interpretação  (frases, intensões, sintaxe, etc) e sua capacidade física e técnica atual (não adianta nada propor uma inspiração que interfira na execução ao cantar, respeite os limites do seu corpo). Com relação à sua capacidade física, eu recomendo que nunca se escolha um fraseado usando o limite da sua capacidade pulmonar, porque em uma situação de stress sua capacidade pulmonar fica reduzida, podendo tornar a frase escolhida impossível de executar.

Estando escolhidas as inspirações, para cada frase fica subentendido que existirá uma inspiração relaxada seguida de uma abertura das costelas ao iniciar a frase e um movimento completo de sustentação, portanto esses movimentos não precisam ser nem escolhidos e nem anotados.

Depois de decidir onde inspirar, a próxima escolha será do momento em que movimentos técnicos como rearticulações de costelas, movimento da agilidade e um segundo movimento de sustentação serão feitos. A escolha de onde eles devem ocorrer se tornará cada vez mais clara com o passar dos anos, a experiência permite que só de olhar uma partitura já se saiba onde cada movimento deve ser feito. Enquanto isso ainda não ocorre, e para um dia chegar lá, faça primeiro um exercício de imaginação, visualizando onde tais movimentos devem ser usados, depois teste suas escolhas e avalie se elas foram boas ou não. A instrução de um professor qualificado também será muito útil para adquirir essa compreensão. O importante é que, assim como escolhemos onde inspirar, esses movimentos devem ser escolhidos a priori para que sua coordenação com todos os outros quesitos a se pensar e executar no canto seja mais fácil e treinável.

A notação

É realmente importante anotar na partitura todas as escolhas feitas no item anterior pois, mesmo com a melhor memória do mundo é possível esquecê-las. A notação desses movimentos pode ser totalmente pessoal, você pode criar toda uma notação personalizada onde os símbolos escolhidos ajudam a entender, em uma visualização rápida, qual movimento deve ser feito e como.

Adriana Castellani, em seu livro Vivere in Armonia¹, sugere algumas possibilidades de notação. Eu as acho confusas, porém, e por isso criei as minhas próprias, mais específicas, que vou dividir com vocês hoje. Fiquem à vontade para usá-las ou não.

  • Inspiração normal:inspiraçãonormal
  • Inspiração grande (quando é necessário mais ar do que o normal para a frase seguinte): inspiraçãogrande
  • Inspiração de emergência (elas também devem ser escolhidas, ser de emergência significa que você não estudará com ela mas, se ocorrer uma situação onde sua capacidade respiratória for comprometida, você já escolheu onde pode fazer uma inspiração extra): inspiraçãoextra
  • Cisura (quando ocorre uma interrupção da fonação. Normalmente não deve ocorrer uma inspiração nesse momento, mas às vezes entra uma pequena quantidade de ar de brinde 😉 ): cisura
  • Rearticulação de costela pequena: rearticulação
  • Rearticulação de costela grande: rearticulacaogrande
  • Movimento da agilidade (principal – considero o principal o primeiro de um conjunto, normalmente o que cai na cabeça do tempo):  agilidade
  • Movimento de agilidade (consequentes ao principal): agildiadeconsequente
  • Segundo movimento de sustentação na mesma frase: sustentacaoextra

Segue agora um exemplo de notações em uma partitura (é apenas um exemplo, não copie os movimentos caso esteja estudando essa música, é muito importante que as escolhas sejam feitas por você – mesmo que elas acabem iguais às assinaladas):

ahnoncredea3

Feitas as escolhas e as anotações, pratique apenas a respiração (em um S longo)  fazendo os movimentos onde foram escolhidos seguindo o tempo da música. Reveja quantas vezes achar necessário as escolhas que fez e, querendo, mude-as, refazendo a notação na partitura.

Para ter aulas de canto com Tati Helene entre em contato aqui.

¹ CASTELLANI, Adriana. Vivere in Armonia. Abano Terme: Francisci Editori

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