“La respirazione è uguale per tutti (soprani, baritoni, tenori, ecc.), le agilità devono averle tutti…”¹ Luciana Serra

Muitos cantores acham que não precisam estudar agilidade vocal por cantarem um repertório onde ela não é frequente, porém isso é um grande erro. O estudo da agilidade vocal é parte integrante da técnica standard de canto (a qual todas as vozes, independente de sua classificação vocal, devem dominar) e deve ser abordado desde o início do estudo.

O conceito de agilidade vocal tem que ser entendido, primeiramente, como uma qualidade essencial para a voz. Mesmo em uma música lenta e em que, aparentemente, não seja necessária agilidade, é possível perceber que em certas interpretações as vozes se movem com mais dificuldade do que em outras, dando a sensação de uma voz arrastada por exemplo. A agilidade está presente em todas as passagens musicais onde é necessária uma movimentação rápida do ar, em coloraturas obviamente, mas também em ornamentos, pequenos melismas e em trechos musicais rápidos como por exemplo o famoso dueto dos Papagenos:

Compreensão mental

anatomia-parede-abdominal-3-638A primeira coisa a ser conquistada para obter agilidade vocal é mobilidade muscular na região abdominal do epigástrio. Pense nos 8 gominhos de uma barriga de tanquinho: esses são os músculos retos abdominais (no caso da barriga super definida, músculos hipertrofiados), os 4 gominhos na parte de cima estão dentro desta região e são exatamente eles que nos interessam, os chamarei de agora em diante de retos abdominais superiores (esse termo não é usado pela anatomia mas muito útil para a pedagogia do canto). Essa região também será importante para outros movimentos técnicos.

Atrás dos músculos retos abdominais superiores temos as aponeuroses² dos músculos oblíquos internos e dos transversais e depois, bem na parte de cima, teremos a borda do diafragma.

Ao contrair esses músculos, eles dão um suave “toquinho” no diafragma impulsionando um pequeno e momentâneo aumento na quantidade de ar na expiração. Esses impulsos feitos de forma rápida, alternando momentos de contração e momentos de relaxamento desses músculos, serão os responsáveis pela agilidade vocal do ponto de vista da respiração.

Compreensão física

solar-plexus-locationComo é muito complicado para um cantor ter uma barriga definida (leia mais sobre esse tema aqui) e assim identificar quais músculos usar facilmente usando os gominhos, uma forma mais fácil de localizar esses músculos é achar o plexo solar, que fica aproximadamente 4 dedos abaixo da linha dos peitorais (onde eles acabam e não na linha dos mamilos).

Coloque a ponta dos dedos nessa região e faça qualquer trecho staccato, seja ele cantado ou apenas com ar, e você vai sentir estes músculos. Um excelente exercício para isso (e também para o fortalecimento dessa musculatura) é o do S F X Ha.

Mesmo que aparentemente todo o abdômen esteja fazendo essa movimentação, o movimento deve começar nos retos superiores e, como todos estão conectados, ter uma ação reflexa nos outros músculos. É bem mais claro e visível qual o músculo que está se contraindo e qual tem apenas ação reflexa quando se passa para o treino dessa pequena contração e relaxamento da musculatura com o ar sendo expelido de forma contínua (no staccato o ar é interrompido para cada contração muscular). Para que isso seja possível, é necessário manter o movimento da sustentação (e claro manter as costelas abertas também) enquanto os retos superiores contraem e relaxam rapidamente. Os exercícios da agilidade do ar (2, 3 e 4) são essenciais para esse treino.

A sensação das pontas dos dedos durante essa contração pode ser de “para dentro” ou “para fora”, musculaturas mais fortes e densas costumam aumentar de tamanho durante a contração, o que dá a sensação de que o músculo está indo “para fora”, já quem possui abdominais mais delgados e menos trabalhados pode ter a sensação da contração ser “para dentro”, o importante, portanto, é focar na sensação de contração e relaxamento, sem se prender no sentido do movimento.

Compreensão emocional

Os músculos que devem ser usados para essa técnica estão localizados em uma região de extrema importância para as medicinas orientais e também para a ocidental, já que nela está localizada uma complexa rede de neurônios.

O plexo solar ou terceiro chacra fica exatamente nessa região e é considerado um importante ponto de energia do corpo humano. Mesmo que você não creia em filosofias mais holísticas é inegável o fato de que essa região sofre alterações quando ocorrem desequilíbrios emocionais. Sensações como “nó no estômago” ou “borboletas na barriga” são grandes exemplos disso.

O importante para o canto é perceber que com frequência essa região se contrai por variações de humor e que a primeira coisa ao começar a treinar esse movimento é deixar a musculatura disponível para ser usada, ou seja, livre de contrações. Na minha experiência como professora, essa é a maior dificuldade ao dominar essa técnica, portanto, prestem bem atenção nesse ponto ao estudarem. Outros movimentos técnicos também podem causar uma tensão reflexa nessa região, que também deve ser eliminada.

Ao trabalhar essa região (exatamente por toda essa relação direta com o emocional) é possível aflorarem emoções involuntárias, por isso é importante ter acompanhamento profissional ao iniciar o estudo dessa técnica. Isso acontece normalmente quando uma emoção que causou alterações físicas volta à tona quando as contrações físicas são liberadas. Não se sinta constrangido, apavorado ou envergonhado caso brotem ataques de riso ou choradeiras inesperadas.

 Para ter aulas de canto com Tati Helene entre em contato aqui.

¹ “A respiração é igual para todos (sopranos, barítonos, tenores, etc.), todos devem haver agilidade…” (Tradução livre)
² “As aponeuroses ou aponevroses são membranas achatadas de constituição semelhante à dos tendões, podemos encontra-las prendendo os músculos do tórax aos ossos da caixa torácica. Têm uma cor branco-nacarado, cujo aspecto é bem documentado durante a cirurgia. A sua espessura varia, mas, ainda que sejam finas, são muito resistentes. Como um invólucro ao redor dos músculos, as aponeuroses criam resistência e aderem à superfície da região do osso ao qual o músculo se prende, funcionando como um tendão mas de forma achatada.” (fonte wikipédia) Aquela parte que parece uma pele branquinha e mais dura que podemos ver em carnes vermelhas.

2 thoughts on “O Ar da Agilidade

  1. Parabéns pelo seu Blog, Tati! Só melhora!! Eu leio todos os artigos e sempre venho consulta-lo quando tenho alguma dúvida. Infelizmente na temos tanto acesso fácil a material de pesquisa voltado pro canto (tudo é importado… ), e o seu blog orienta e nos ajuda a sanar tantas lacunas … obrigada por compartilhar o que sabe! Sucesso!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *