Esse post é continuação do post O Ataque das Pregas Vocais – Parte 1, comece por ele!

Compreensão Física

Para poder controlar precisamente o movimento das pregas vocais é muito importante aumentar sua consciência corporal na região da laringe, para poder sentir o movimento que elas estão fazendo.

Suavemente, toque com seus dedos o seu pescoço, tentando localizar a laringe. Ela fica na parte da frente do pescoço, em uma região bem central, é um tubo firme, mas não se engane, é muito delicado. Toque delicadamente todo o seu comprimento e procure em seu relevo a maior protuberância, semelhante a um anel (nos homens é bem mais fácil por ser muito mais protuberante, o chamado pomo de Adão). Achou? Você acabou de encontrar a sua cartilagem tireóide (Nas imagens desse post é a parte amarela).

Um pouco abaixo dessa cartilagem tireóide (localizadas paralelas ao chão quando estamos de pé) estão as suas cordas vocais (ou pregas vocais, como as chamamos hoje em dia). Mantenha seus dedos apoiados sem apertar nessa região e prenda a sua respiração, observando, tanto com a sua sensibilidade interna quanto com o tato dos dedos, procure aprofundar a sua sensação interna até sentir que algo nessa altura da sua laringe se fecha quando você está em apneia e se abre quando volta a respirar normalmente, este “algo” são as suas pregas vocais.

Agora, ainda com os dedos apoiados para ajudar na sensibilização da região, prenda a respiração e solte em um Ahh!, como o “Ah!” de frescor dos comerciais do drops Halls, as pregas estarão fechadas no início e depois se abrirão de forma bem ampla facilitando a percepção do movimento.

Estando com isso mais sensibilizado, comece a tentar movê-las, abrindo e fechando-as, sem precisar prender a respiração para isso. O passo seguinte já serão exercícios específicos de ataque com fonação envolvendo a posição correta das pregas vocais.*

Uma inspiração totalmente relaxada ajuda muito nesse treino pois, com o completo relaxamento de todo o aparelho fonador durante a inspiração, as pregas se separam totalmente, tornando muito mais fácil sentir quando elas estão fechando novamente. Como dissemos, este movimento deve ser feito milésimos de segundos antes de começar a fonação propriamente dita.

” In singing, the coordinated onset occurs only when the glottis has been fully opened with the preceding inhalation. This full abduction of the vocal folds is followed by clean and precise closure. A partially opened glottis, as in normal as opposed to deep breathing, does not produce the subsequent clean onset demanded for skillful singing.”¹

Durante todo esse treino e sensibilização é importante estar atento para que apenas os músculos Crico-aritenóides laterais e os Aritenoides (são os em vermelho nas imagens), responsáveis pelo fechamento e abertura das pregas, estejam ativos, o resto da laringe e do pescoço devem estar totalmente relaxados. Apalpar suavemente o pescoço e a laringe é um bom jeito de identificar tensões indesejadas. Os músculos citados acima não podem ser atingidos pelo toque externo, portanto qualquer tensão que se possa sentir pelo toque não deveria estar ocorrendo.

“The muscles which open the glottis are the Crico-arytenoidei postici; and those which close it are the Arytenoideus and the Crico- arytenoidei laterales.”²

A força necessária para a adução das pregas vocais é a mesma que a necessária pelos nosso dedos quando seguramos uma folha de papel entre o polegar e o indicador, apenas o suficiente para que a folha não caia mas sem amassar o papel. Treinar com essa imagem, inclusive com o uso real de uma folha de papel entre os dedos, ajuda muito a alcançar o correto tônus necessário. Quando as pregas vocais estão “amassando o papel”, haverá tensão demasiada nelas, que será prejudicial para o bom canto.

Compreensão Emocional

O treino dessa técnica é bem mais complicado do que o treino das técnicas de respiração, por exemplo, porque aqui é necessário trabalhar com músculos muito pequenos e que normalmente não fazem parte da consciência corporal geral.

Emocionalmente, é preciso se preparar para horas de estudo confuso e frustrado até alcançar finalmente o controle dessas musculaturas. O acompanhamento de um bom professor é essencial para minimizar essas confusões. O domínio dessa técnica, porém, aumenta incrivelmente a confiança do cantor em si mesmo, já que as inconstâncias comuns nos ataques aspirados ou brutos desaparecem, criando um ataque sempre controlado, limpo e principalmente seguro.

“… the balanced onset avoids the irregular wave patterns associated with the breathy onset and is free of the erratic initial waves that indicate the explosive character of the hard attack.” ¹

É comum durante o treino e uso dessa técnica que a percepção do pigarro seja maior, isso não significa que houve um aumento na produção do muco e sim que devido á correta posição e tônus das pregas vocais a sensibilidade a ele aumenta.

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*Descreverei esses exercícios nos próximos posts.
¹ “No canto, o ataque coordenado ocorre só quando a glote foi totalmente aberta durante a inspiração precedente. Essa completa abdução (NT: movimento contrário ao da adução) das pregas vocais é seguida por um limpo e preciso fechamento. Uma abertura parcial da glote, que é comum na respiração normal (o contrário da respiração profunda), não produz um subsequente ataque limpo necessário para um canto hábil.” (Tradução livre) “… o ataque balanceado evita os padrões de ondas irregulares associados ao ataque aspirado e é livre das ondas de instabilidade que é um indício da explosão do ataque bruto”. (Tradução Livre) – MILLER, Richard. The Structure of Singing: System and Art in Vocal Technique. United States of America: Schirmer, 1996.
² “Os músculos que abrem a glote são os Crico-aritenoides posteriores; e aqueles que a fecha são os Aritenoides e os Crico-aritenoides laterais.” (Tradução livre) -GRAY, F. R. S. Henry. Gray’s Anatomy. New York: Fall River Press, 2012.

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