Continuando o tema Postura, hoje falarei sobre a postura em pé. Antes de ler esse post, recomendo a leitura dos posts anteriores: o que fala em geral sobre postura e aquele sobre a postura sentada.
“…somente a boa postura não garante a adequada reação à gravidade no parado em pé. Ela deve estar acompanhada da intenção de manter a força e os ajustes muscoesqueléticos necessários para sustentar a ação por determinado tempo. Ou seja, para uma boa postura em pé, deve-se somar a coordenação entre os ossos com a intenção de aplicar a força de empurrar o chão com o antepé.” ¹
A postura em pé é a mais importante para o canto, é nela que passamos a maior parte das horas em que cantamos, seja estudando, seja ensaiando ou no palco propriamente. Depois de conquistada, é nessa postura que recomendo que se estude canto. Lembrando o que eu disse no post sobre postura sentada, no início recomendo o uso da postura sentada.
Como fiz nos posts anteriores, falarei de cada parte do corpo envolvida nessa postura, começando dessa vez de baixo para cima, afinal os pés terão papel fundamental na criação e irradiação da força, sendo a base de toda a postura em pé.
Pés
“Quando estamos na posição parado em pé, para manter o equilíbrio e uma boa distribuição do peso corporal, devemos estar apoiados primordialmente sobre três pontos ósseos em cada pé: a lateral inferior do osso calcâneo, a parte inferior da cabeça no quinto metatarso e a parte inferior da cabeça do primeiro metatarso.”¹
A primeira coisa a entender sobre a posição dos pés ao estarmos em pé é que o pé não pode ser passivo, apenas recebendo o peso do corpo sobre ele, deve reagir ao solo empurrando-o.
A melhor posição dos pés é aquela onde eles estão paralelos e na largura dos quadris, alinhados com os fêmures, mantendo a distância aproximada de um pé entre os dois pés.
Os pontos ósseos de apoio em cada pé são a lateral inferior do osso calcâneo (calcanhar), a parte inferior da cabeça do quinto metatarso (base do dedinho) e a parte inferior da cabeça do primeiro metatarso (base do dedão). A distribuição de forças deve ser predominante no antepé, parte da frente dos pés, sem perder o contato do ponto de apoio do calcanhar, e mantendo um equilíbrio entre os dois pontos da frente (base do dedinho e do dedão). Caso observe-se a tendência de um ponto estar com mais apoio do que o outro, deve-se fazer a correção dando mais atenção e ativação para o ponto onde se sente menos contato.
Pernas
Para falar das pernas, primeiro é necessário entender que as articulações do corpo têm várias possibilidades de posições:
“Durante um movimento articular, seja de flexão, extensão, abdução ou adução, existe o componente rotacional de um osso em relação ao outro. Isso ocorre porque diversos músculos cruzam os ossos e, quando trabalham, ocorre neles uma forma de torção. Além disso, quando acontece uma contração muscular qualquer, o movimento resulta sempre em determinado grau de rotação pelo fato de os tendões se inserirem numa parte específica do osso.” ¹
Essa consciência da rotação dos ossos é vital para o correto posicionamento das pernas: as tíbias devem ser rotadas para dentro (rotação interna) e os fêmures para fora (rotação externa). O joelho deve estar estendido e nunca nem semiflexionado e nem superestendido. Esse correto posicionamento dos ossos das pernas associado à distribuição correta do peso nos pés propiciará o correto posicionamento do arco longitudinal externo, onde deve ser depositado o peso corporal, o que deixará a articulação do joelho livre de sobrecargas.
“No parado em pé, a flexão do tornozelo deve estar associada à rotação interna da tíbia para que o arco longitudinal medial mantenha sua forma e tenhamos estabilidade ao depositar o peso no arco longitudinal externo.” ¹
Quadril
A posição correta do quadril é aquela onde ele está completamente estendido e sem excesso de anteversão e nem retroversão na pélvis. Nesta posição, há uma suave anteversão pélvica. É importante que os músculos dos glúteos estejam contraídos para mantê-la, com cuidado para que o ânus não se contraia junto (a princípio parece que não, mas é possível movimentá-los separadamente).
É uma posição normalmente difícil de se entender, já que ao longo da vida é comum aprendermos duas outras posturas: uma postura aparentemente “encaixada”, com o quadril totalmente estendido, mas na qual ocorre uma forte retroversão pélvica, ou a postura em que o quadril está “empinado”, onde a forte anteversão pélvica impede que o quadril esteja totalmente estendido. Observe na imagem abaixo essas duas posturas comuns (a da esquerda, quadril “encaixado” e a da direita, quadril “empinado”) :
“As articulações do quadril e sacroilíacas devem estar posicionadas de forma que equilibrem a relação entre a força peso e a FRS [Força de reação ao solo]. Isso ocorre com uma leve anteversão pélvica, posição na qual as articulações sacroilíacas e do quadril se alinham e possibilitam um melhor equilíbrio de forças.” ¹
Com o quadril posicionado corretamente, será a hora de ajustar a coluna, a cintura escapular, os ombros, os braços, as mãos e a cabeça exatamente da mesma forma como descrevi na postura sentada.
Todos esses ajustes desde os pés até a cabeça permitirão que a força gerada pela reação ao solo percorra o corpo subindo pela parte de trás e descendo pela parte da frente. Um corpo com um correto caminhar das forças é um corpo mais potente e com mais possibilidades de controle e execução dos movimentos técnicos.
Ao começar um treino nessa postura é normal que ocorra um cansaço tanto físico quanto mental, pois a atividade demanda grande concentração e ativação muscular, muitas vezes de músculos que no momento não possuem força suficiente para manter a posição. O cansaço muscular é comum e deve ser recebido como um bom sinal, de que começaram a ser ativados os músculos. A postura passiva sem ativação muscular parece no começo mais fácil e confortável, mas com o tempo sua manutenção se torna dolorosa, principalmente para as articulações. Fique atento! As articulações não devem doer, pois não devem receber peso, quem deve receber o peso são os músculos que são feitos para resistir a ele, um cansaço muscular só aponta que eles precisam ser mais treinados e não que algo está incorreto.
“Apesar de aparentemente cômoda, a forma passiva parece não ser confortável no transcorrer do tempo, pois aumenta a pressão do peso sobre áreas das articulações, tornando incômodo permanecer na posição.”
“Quando passamos a trabalhar com a forma mais ativa, podemos provocar cansaço muscular e cerebral, pois há uma tendência de regressar à forma passiva. Com o aumento da exposição à forma ativa, porém, o corpo adapta-se e ganha condicionamento; a postura é mantida por mais tempo e o indivíduo sente-se mais confortável ao movimentar-se.” ¹
Para ter aulas de canto com Tati Helene entre em contato aqui.
Para marcar uma consulta com a Dra. Tati Helene entre em contato aqui.
2 thoughts on “Postura em pé”