Comecei a falar sobre postura no post da semana passada e recomendo a prévia leitura dele antes do de hoje.

A postura sentada é a que eu recomendo para o começo do estudo do canto, pois nela podemos nos concentrar no posicionamento correto do tronco, que é o essencial para o cantor (nele estão contidos todos os músculos responsáveis pelo controle da respiração) e já começar a trabalhar com o estudo das técnicas específicas do canto, deixando mais para frente o controle da posição em pé que será, depois de conquistada, a melhor posição para cantar.

A posição do quadril deve ser com os ossos ísquios (pontinhas dos ossos da bacia, podem ser localizados com a ajuda das mãos no meio das nádegas) apontando para baixo. O corpo deve estar apoiado com o peso ligeiramente para a frente deles, como se ambos empurrassem a cadeira , como na figura:

isquiosaosentar

E as nádegas devem estar ativas empurrando o assento, para assim dar base para o tronco.

As pernas devem estar separadas em uma distância confortável, mantendo a largura dos quadris e os pés devem estar totalmente apoiados no chão, mantendo uma força constante de empurrar o solo, os tornozelos ficam ligeiramente atrás da linha dos joelhos para ser possível manter essa força. Caso os pés não alcancem o chão, mude para um assento mais baixo ou coloque um apoio para eles.

Recomendo que a posição do tronco, cabeça e membros superiores seja a primeira a ser aprendida. Ela será a mesma para a postura de pé (na verdade será a mesma para todas as posturas) e é a principal para um cantor. Recomendo a leitura do post sobre como deixar os músculos disponíveis para o canto, pois nele descrevo exercícios específicos de fortalecimento para músculos que serão essenciais na tarefa de manutenção da boa postura junto com o controle respiratório para o canto. Falarei de cada pedacinho separadamente para tornar fácil a compreensão:

Coluna:

slide_9Ao posicionar a coluna, é muito importante respeitar as suas curvaturas naturais, ou seja, uma retificação de coluna onde se tenta eliminar as curvas naturais é muito ruim mas também o é a exacerbação dessas curvas.

O correto posicionamento da coluna causará um fluxo de forças no qual a força subirá pela parte de trás do tronco e descerá pela parte da frente. Normalmente, a posição que consideramos como tronco reto é uma que procura retificar a cifose da coluna torácica e para isso rota-se levemente o tórax para frente para permitir que a cifose natural retorne. Repito mais uma vez que esse trabalho de ajuste deve ser feito de maneira pessoal com a ajuda de um profissional responsável.

“…a caixa torácica (…) terá um sentido de rotação anterior, uma anteversão do tórax, sendo as clavículas empurradas para a frente e as costelas flutuantes, para trás. Para que se mantenha o sentido da anteversão da caixa torácica, o osso esterno deve ser direcionado para baixo, enquanto as vértebras torácicas são tracionadas para cima.” ¹

Observe a figura² a seguir, nela as três primeiras posturas (da esquerda para a direita) estão erradas, as curvas foram exageradas ou retificadas:

posturacom4

Cintura escapular e ombros:

A cintura escapular é a região anelar do corpo onde ficam as escápulas (popularmente chamadas de asinhas das costas). O seu correto posicionamento interfere diretamente no caminho que a força percorrerá pelo corpo e também na capacidade de expansão das costelas nos movimentos de abertura e rearticulação.

O correto posicionamento dela é quando as escápulas estão afastadas umas das outras lateralmente, rodando também os ombros para a frente (preste atenção, de forma alguma isso quer dizer que ombros ficam caídos para a frente).

“Para uma boa aplicação de força e uma boa postura, consideramos que as escápulas devem estar abduzidas e aderidas ao gradil costal, oferecendo estabilidade aos músculos que estão inseridos nela e permitindo que tenham um bom ponto fixo.”

cintura escapular

Braços e mãos:

Os braços devem seguir o posicionamento dos ombros, com os cotovelos levemente abertos e rodados para cima e as mãos na posição sentada podem apoiar nas pernas, porém devem manter um tônus constante. A falta de tônus nelas gera uma sobrecarga a diversos músculos, causando acúmulo de tensão que será prejudicial para uma boa emissão vocal.

“…isso [as mãos soltas] faz que os ombros se elevem para dar sustentação a esses membros sem tônus. A musculatura do trapézio, que já está envolvida nos movimentos da escápula e da cabeça, fica sobrecarregada.

Essa falta de “ação” das mãos acaba gerando alterações posturais em todos os membros superiores. O punho é flexionado; o cotovelo, estendido. o ombro, elevado, penetrando na glenoide; a escápula e a clavícula ficam em adução. Tudo isso acentua a tensão muscular na base do crânio, no pescoço e no alto do tronco, além de afetar a coordenação de todas as articulações dos membros superiores.” ¹

Cabeça:

A posição da cabeça interfere diretamente na posição da laringe e na sua mobilidade, portanto, ela requer uma atenção especial. Outro ponto importante a ser observado é que é muito comum criar-se tensão no pescoço na esperança de que isso ajude na emissão de algumas notas. Isso é equivocado, a cabeça deve permanecer sempre na posição que permite que a laringe esteja totalmente livre.

Deve-se observar a posição do pescoço em relação à coluna, o correto é que seja em continuidade a ela, nem com a cabeça para frente e nem para trás.

Com relação à posição da cabeça em si, o olhar deve estar centrado, sem que para olhar pra frente seja necessário mover os olhos para baixo ou para cima e a parte de trás do pescoço deve estar alongada para não haver compressão das vértebras cervicais, mantendo assim o caminho das forças (subindo pela parte de trás do corpo e descendo pela frente).

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*Força Dinâmica é o nome de um método desenvolvido e aplicado na clínica de mesmo nome. Foi desenvolvido pelos pesquisadores Alexandre Blass e Marcelo Semiatzh. Para quem tiver interesse em ter um acompanhamento direto lá na clínica eu recomendo o fisioterapeuta Marcelo Semiatzh e o treinador Leandro Ramos (Magoo), que foram com quem eu aprendi o método. 
¹ BLASS, A. e SEMIATZH, M. – Força Dinâmica: Postura em Movimento – São Paulo: Summus, 2014
² As figuras em preto e branco foram tiradas do livro: BLASS, A. e SEMIATZH, M. – Força Dinâmica: Postura em Movimento – São Paulo: Summus, 2014

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