Imagino que o tema de hoje tenha deixado alguns dos leitores um pouco perplexos, ou talvez se perguntando se eu não tenho nada mais útil para falar, se estou simplesmente enchendo linguiça e por aí vai, mas na verdade o assunto de hoje é muito importante para o canto. Pois afinal, a saliva é uma das nossas aliadas!!

Talvez muitos de vocês já tenham ouvido o conselho “não sente na primeira fileira, você levará uma chuva de baba” ou tenha simplesmente passado por essa experiência de, estando muito próximo de um cantor acabar recebendo uma gentil babinha na cara, seja dividindo o palco ou como platéia. Apesar de nojento isso é um ótimo sinal!!

Usá-la como parâmetro 

Como expliquei no post sobre a divisão da técnica em partes, o combate às tensões desnecessárias é uma parte muito importante do domínio técnico e, para conseguirmos perceber o que não deve estar tenso e sim relaxado, podemos usar diversos parâmetros. Um deles é a salivação farta.  Quando cantamos produzimos ondas sonoras que causam vibrações pelo nosso corpo todo. Para que essas vibrações se propagem, é necessário que as estruturas onde ocorrerão sua propagação estejam relaxadas. Quando essas vibrações atingem as glândulas salivares, ocorre um estímulo na produção da saliva, mas, para que elas sejam atingidas, as estruturas em volta, principalmente o músculo masseter, (destacado na figura) devem estar relaxadas, para que a vibração se propague.

Ao entender isso, fica claro como podemos usar a salivação como um parâmetro de controle para o relaxamento da musculatura do maxilar e da língua: se a boca fica seca ao cantar, isso é um sinal de tensão desnecessária nessa região, se a boca fica farta ou normal em saliva é um sinal de que as estruturas estão relaxadas.

Sua expulsão (babar mesmo) também pode ser usada como um bom parâmetro de articulação correta das consoantes sem perder o fluxo de ar. Nesse momento se lembre das prioridades e deixe pra lá o desejo de ser fino e educado. 🙂

Preservá-la

Além de um ótimo parâmetro, a saliva é nossa aliada também na hidratação e lubrificação da boca e faringe (parte oral e laríngea), portanto é importante também que cuidemos para que fatores externos não interfiram na salivação.

Nesse momento é importante o aconselhamento de um bom dentista para que ele avalie as condições das suas glândulas salivares e também oriente a melhor pasta de dente, pois pastas de dente que diminuem a salivação não são indicadas para serem usadas antes de cantar. Não elimine sua aliada!!

Vira-casaca

Às vezes sua aliada pode virar a casaca e se acumular no fundo da faringe, dando a impressão de que você está fazendo um malabarismo com aquele acúmulo de líquido e correndo o risco de a qualquer momento cair para o lado da laringe e fazer com que você engasgue.

A solução é engolir. Caso você tenha pausas amplas, não ocorrerão problemas, mas muitas vezes a música só tem os pequenos momentos para as respirações. Numa situação como essa, você terá que fazer um procedimento de emergência que consiste em engolir em vez de inspirar e adiar essa inspiração para algumas notas a frente. Para que esse procedimento seja bem sucedido é necessário decidi-lo na inspiração da frase anterior para alterar a velocidade do movimento de sustentação calculando-o como se o momento do engolir não existisse e assim pular essa inspiração. É muito comum, também em situações como essa, que não seja possível cantar duas frases seguidas sem a inspiração trocada no meio, use então as inspirações extras que já estavam marcadas para emergências na sua partitura.

Nunca imite um movimento de outro cantor, cada instrumento é diferente

e pode ter diversas alterações devido a conformações musculares próprias.

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3 thoughts on “Saliva

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