Se, depois de ler todo o conteúdo que eu postei até agora no blog referente à técnica de canto, você assistir a um vídeo meu cantando, poderá possivelmente observar que nem sempre eu faço o que expliquei nos posts e provavelmente se perguntar o porquê disso. Para responder a essa questão, é necessário entendermos primeiro o conceito de movimentos técnicos standards.
A palavra standard em inglês é traduzida para o português como ‘padrão, critério, modelo, regra, norma, exemplar’, mas no fundo é utilizada para expressar um conceito para o qual não existe um equivalente exato em português (por isso eu uso a palavra em inglês). Convivemos muito com essa palavra no comércio, em que muitos produtos possuem a versão standard e a versão estendida (por exemplo para diferenciar o conteúdo de filmes e jogos). Peguemos o exemplo de um filme: a versão standard, então, contém o filme completo, com sua parte principal, essencial. Assistindo-a somos capazes de compreender o todo do filme. Na versão estendida, porém, com cenas que foram cortadas ou comentários do diretor, temos toda a parte standard acrescida de variados recursos.
No canto podemos traçar um paralelo com isso. A técnica standard engloba todos os movimentos necessários para um som mezzoforte completo em harmônicos, com projeção, sustentação, mobilidade, que abranja uma ampla tessitura mas que não englobe seus limites extremos e, principalmente, livre de qualquer tensão desnecessária para a sua produção. Variações grandes de dinâmica, frases muito longas, messa di voce, staccato, extremos de tessitura e grandes variações de cor são movimentos específicos de técnica e por isso se enquadram na categoria que eu chamo de recursos.
A técnica específica para produzir esses recursos pode alterar muitos itens da técnica standard e, principalmente, aumentar de maneira significativa a quantidade de tensão no corpo. Exatamente por isso esses movimentos não devem ser feitos o tempo todo ao cantar pois, com um nível de tensão alto, os músculos entrarão em estafa e pararão de funcionar corretamente ou até mesmo por completo, prejudicando a qualidade e a salubridade do canto.
Para o equilíbrio adequado entre esses dois grupos de movimentos técnicos, uma boa divisão é a que dedica 90% do tempo ao canto com técnica standard e 10% do tempo ao uso dos recursos. Essa porcentagem pode ser alterada dependendo do nível de consciência e controle corporal de cada um (apenas para cantores muito experientes recomendo tentar aumentar essa porcentagem), mas nunca a parte de recursos pode ser predominante.
Pedagogicamente, um estudante de canto deve primeiramente dominar a técnica standard e só então aprender os movimentos técnicos dos recursos. Até agora a maioria dos posts do Blog trataram dos movimentos técnicos standards.
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