Uma das maiores dúvidas de estudantes de canto ao aprenderem as técnicas de respiração que envolvem a abertura das costelas (como explicada no post sobre o ataque do ar) e sua manutenção (como explicada no post sobre sustentação e no post sobre a rearticulação das costelas) é: “como se faz isso?”. Para quem possui os músculos responsáveis por esse movimento destreinados parece totalmente impossível essa abertura e mais impossível ainda a sua manutenção, mas tudo é uma questão de treino.
O passo a passo para conseguir chegar lá é o seguinte:
1. Conhecer que músculos são esses que você está querendo usar:
Observando a figura ao lado é possível ter uma ideia da quantidade de músculos que temos nessa região e principalmente as suas camadas e sobreposições.
Os músculos responsáveis pela abertura e manutenção das costelas são os Intercostais Externos e o Serrátil Anterior:
“The Intercostals are the chief agents in the movement of the ribs in ordinary respiration.”
“The lower fibres of the Serratus magnus may possibly assist slighthly in dilating the chest by raising and everting the ribs” ¹
É muito importante prestar atenção para que os músculos Rombóides e o Trapézio não participem desse processo, a ativação desses músculos pode ser percebida com o elevamento dos ombros ao tentar abrir as costelas. Isso, além de não ajudar, pois não são músculos relacionados a esse movimento, causa muita tensão que interferirá diretamente na laringe.
2. Desenvolver a consciência corporal desses músculos:
Para conscientizar-se da existência desses músculos e de suas capacidades de movimentação, eu recomendo alguns exercícios:
a) o exercício da apneia, já explicado aqui;
b) coloque suas mão na lateral das suas costelas (cruzadas no peito, mão direita na costela esquerda e vice e versa) e procure respirar movendo essa região;
c) ao conseguir movê-la comece a coordenar o movimento de abertura das costelas com o da expiração e procure forçá-las mais para fora para, dessa forma, fazer uma força contrária à natural e orgânica (lembre-se de que o canto lírico não é natural) de fechamento das costelas com a saída do ar;
d) escolha um dia normal do seu cotidiano para se exercitar e mantenha suas costelas abertas o dia inteiro, procurando deixar os outros músculos do corpo agindo da forma como funcionariam cotidianamente. Além de ser excelente para a conscientização dessa musculatura, este é também um exercício de fortalecimento;
3. Fortalecê-los:
Primeiro é importante relembrar que, antes de começar a fortalecer as musculaturas específicas para as técnicas de respiração, é necessário fortalecer os músculos que ficarão com a função de sustentação da sua coluna, relembre aqui.
a) um excelente exercício para o fortalecimento desses músculos é o da prancha lateral, em que permanecemos apoiados lateralmente na palma da mão ou no cotovelo e nos mantemos em isometria² durante alguns segundos. Para fazer esse exercício, porém, é essencial que a postura esteja correta, do contrário seu efeito será apenas prejudicial. Não tente fazer sem orientação, peça ajuda ao seu professor de canto, personal trainer, professor da academia, etc. Um profissional qualificado, além de ensinar a postura correta para a execução do exercício, irá adequar a intensidade do mesmo às suas capacidades;
b) além do exercício da prancha lateral, é uma ótima ideia explicar ao seu orientador físico (o professor da academia por exemplo) quais músculos você quer fortalecer e pedir sugestão de outros exercícios. Fique atento apenas para que o exercício não envolva o músculo Trapézio;
c) o treino diário de exercícios de respiração como os da sustentação 1 movimento, sustentação mais de um movimento, rearticulação de costelas – movimento grande e rearticulação de costelas – movimento pequeno;
d) a sequência de exercícios com fita de cetim amarrada nas costelas (exercício 1, exercício 2, exercício 3, exercício 4 e exercício 5 – lembre-se de começar pelo número 1 e só acrescentar o seguinte quando este estiver dominado) feita diariamente.
Para ter aulas de canto com Tati Helene entre em contato aqui.
Oi Tati Helene,
Finalmente comecei a ler seu blog e eu o acho super abrangente. Depois que tive a minha filha há três anos, minha diástase não fechou ou seja, os retos abdominais não se juntaram. Desde então, sinto muita dificuldade para sustentar notas por muito tempo e minhas coloraturas ficaram mais lentas e pesadas. Sei que é perigoso fazer qualquer exercícios abdominal porque eles não ajudam a fechar a diástase, ao contrário. Você conhece casos assim? Se a resposta for positiva, que conselhos você poderia nos dar?
De antemão agradeço,
Mir
Olá Mir,
Fico muito feliz que você goste do Blog! Nunca cuidei de um caso específico de diástase pós parto, mas já tratei de alguns casos de pessoas que passaram por cirurgias na região do abdômen e os sintomas que vocês descreveu são exatamente os mesmos. Acho que a primeira coisa que você tem que fazer é saber do seu médico que grau está sua diástase e o que você está liberada para fazer, pois você precisará fortalecer esses músculos novamente. Seu médico te liberando para fazer exercícios de fortalecimento eu recomendo que você faça apenas abdominais isométricos (não sei se você já leu esse post onde falo sobre os exercícios abdominais bons e ruins para cantores). Depois de um período de fortalecimento você pode começar bem devagar com os exercícios respiratórios de agilidade para poder recuperar a mobilidade desse músculos. Nesse link existem algumas sugestões de exercícios específicos para diástase (consulte seu médico antes de fazê-los).
Que você se recupere logo!
Beijocas
Tati Helene