“The way a singer initiates vocal sound is crucial to the subsequent phrase. “¹

Vocês devem estar se perguntando “onde eu já vi essa citação?” e a resposta é no post O ataque do Ar (caso não tenha lido esse post ainda, recomendo que o leia antes do de hoje). Como vimos neste post, ‘dois movimentos principais interferem na qualidade do ataque vocal e, consequentemente, na qualidade sonora de toda a frase que se segue: a adução* das pregas vocais e o início da expiração. Deve-se cuidar com quando e como ocorrem ambos os movimentos e, em especial, da relação de um com o outro.’ Como nesse post expliquei o ataque do ponto de vista da expiração, hoje falarei sobre a adução das pregas vocais no início da fonação.

“The critical relationship between vocal onset and the ensuing form of phonation is further explained by the neuromuscular systems that control them. Prephonatory set is largely controlled by the ‘motor system’, in which the central nervous system sends signals to the laryngeal muscles, resulting in voluntary muscular contractions. The subsequent control of those muscles is sensory; it is achieved through a neuro muscular feedback system known as proprioception or kinaesthetic awareness, as well as through an auditory control system in which the ear monitors the sound and makes continuous corrections.” ²

Por isso, o ataque do som é tão fundamental para a qualidade subsequente da frase cantada. Sua preparação correta deve começar durante a fase da pré-fonação, onde o sistema motor tem maior controle sobre a região: milésimos de segundo antes do início da fonação as pregas vocais já devem estar na adução correta (a quantidade de tônus durante a adução das pregas é variável como a de qualquer outro músculo e também deve ser corretamente dosada).

“After the lungs are filled, it is necessary, for the production of a sound, that the pupil should hermetically close the glottis so that its extreme edges, called the Vocal Cords, may be set vibrating by the air which bursts throught at the moment of Expiration.” ³

Compreensão Mental

Para entender como fechar as cordas vocais corretamente, primeiro é necessário um pouco de anatomia, para identificar quem é quem nesse processo, e também para adquirir familiaridade com a terminologia que usaremos daqui pra frente, principalmente os termos glote e músculos aritenóides:

“The foundation of the larynx is the cricoid cartilage, a complete ring of gristle that forms the top ring of the trachea. Sitting on top of the rear portion of the cricoid are the paired arytenoid cartilages; the small, pyramid-shaped cartilages with triangular bases move upon the cricoid. Each arytenoid has three prongs: a forward-extending one, which inserts into the vocal fold itself, called the vocal process; an outward-extending one called the muscular process; and an upward and backward-extending one called the apex or ‘corniculate’. The largest cartilage, the thyroid, also sits upon the cricoid; it is shield-shaped, and the portion (in men) that protrudes from the neck is called the ‘Adam’s apple’. The intrinsic muscles of the larynx are named after the cartilages to which they are attached; when these muscles contract, they move the cartilages relative to each other and in so doing affect the shape of the glottis.

The glottis is the variable opening between the vocal folds. These folds, comprised of the thyroarytenoid or vocalis muscle(s) and a mucosal cover layer, including the vocal ligament, extend from their fixed anterior ends at the angle of the thyroid cartilage to their posterior ends at the vocal processes of the arytenoid cartilages. The glottis can be measured in its entire length as well as in two discrete portions.”

Anatomia-Laringe

Como vimos no post sobre o ataque do ar, o quando do início da fonação está totalmente relacionado com o início da expiração. Naquele post enfatizamos que devemos sincronizar ambos os ataques para produzir um som tecnicamente correto. Relembrando, caso o ar comece antes da fonação teremos um ataque aspirado, será ouvido um ‘h’ antes da fonação propriamente dita. No caso oposto, onde a adução das pregas começa antes da expiração, teremos um ataque forçado, no que é chamado hoje em dia golpe de glote (esse termo foi primeiramente nomeado por Manuel Garcia, cantor e importante pedagogo vocal, que foi um dos pioneiros na criação de um método para o ensino do canto e também o criador do laringoscópio. Garcia usou esse termo de forma positiva, dizendo que este era um dos importantes pilares da boa técnica vocal, mas na modernidade esse termo é usado para nomear o ato de ‘espancar’ uma prega contra a outra ao atacar um som. Durante muitos anos, talvez por influência do termo que ele escolheu, ‘golpe’, achou-se que Garcia queria esse ‘espancamento’ de pregas, mas muitos pesquisadores atuais acreditam que o que ele queria era apenas um ataque firme, tendo sido infeliz na escolha do nome para esse movimento). O correto do ponto de vista técnico é, portanto, que haja sincronia entre o início da adução e o da expiração.

Para o estudo do ataque do ar, dizer que o movimento de expiração deve começar simultaneamente com o da fonação é suficiente, porém, para o estudo do início da fonação não. Pois, como falei acima, é necessário preparar a posição das pregas vocais durante a fase de pré-fonação para que elas possam começar a vibrar simultaneamente com o início da expiração. O início da vibração das pregas e da expiração serão simultâneos mas a preparação de cada um será ligeiramente deslocada, primeiro ocorrerá a adução das pregas, produzida pelos músculos aritenóides, e depois a expiração. Com o treino o tempo deste “descolamento” tende a se tornar cada vez menor até reduzir-se a uma fração de tempo imperceptível mas, no começo, pode ser até muito maior do que um segundo, continue treinando para diminuir ao máximo esse tempo.

“Neurologist Barry Wyke has explained that the motor system that controls prephonatory set can be programmed to reduce the time interval between prephonatory tuning and phonation to as little as 50 miliseconds in trained singers (Wyke 1980, 46-7). Perhaps this is as close as one need get to a true simultaneous attack.” ⁵

A pré-fonação também é o momento de cuidar do como da adução. Não apenas as pregas vocais devem estar juntas durante a pré-fonação, mas devem também estar com o tônus correto já nesse momento, antes de começarem a vibrar. A medida exata desse tônus depende de várias características pessoais físicas e também das condições técnicas de cada um, portanto, esse treino deve ser sempre acompanhado de um bom professor capaz de orientar nesse sentido.

Como o post estava ficando muito grande e ainda tenho muito o que falar sobre esse tema vou dividi-lo em dois…

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* Para que haja fonação (voz), é preciso que as pregas vocais estejam em Adução, ou seja, fechadas.
¹ “A forma como um cantor inicia a fonação é crucial para a sua frase seguinte.” (Tradução livre) – MILLER, Richard. The Structure of Singing: System and Art in Vocal Technique. United States of America: Schirmer, 1996.
² “A relação crítica entre o início vocal e a forma que se segue a fonação é explicada pelos sistemas neuromusculares que os controlam. O aparelho pré-fonatório é amplamente controlado pelo “sistema motor”, no qual o sistema nervoso central envia sinais para os músculos da laringe, resultando em contrações musculares voluntárias. O controle posterior desses músculos é sensorial, que é conseguido através de um sistema de feedback neuromuscular conhecido como propriocepção ou consciência cinestésica, bem como através de um sistema de controle auditivo em que o ouvido monitora o som e faz as correções contínuas.” (Tradução livre) – STARK, James. Bel Canto – A History of Vocal Pedagogy – Toronto: University of Toronto Press Incorporated, 1999. (eBook)
³ “Após os pulmões serem preenchidos, é necessário, para a produção de um som, que o aluno feche hermeticamente a glote de modo que as suas arestas extremas, chamadas de cordas vocais, possam ser postas em vibração pelo ar que explode durante o momento de expiração.” (Tradução Livre) – MARCHESI, Mathilde. Bel canto: A Theoretical & Practical Vocal Method  – New York: Dover Publications, Inc., 1970.
⁴ “A fundação da laringe é a cartilagem cricóide, um anel completo de cartilagem que forma o anel superior da traqueia. Sentadas no topo da porção traseira da cricóide estão as cartilagens aritenóides emparelhadas; as pequenas cartilagens em forma de pirâmide com base triangular movem-se sobre a cricóide. Cada aritenóide tem três pontas: uma para extensão frontal, que se insere na própria prega vocal, chamada de processo vocal; uma para extensão exterior chamada processo muscular; e uma para extensões para cima e para trás, chamada de ápice ou ‘corniculada’. A maior cartilagem, a tireóide, também está alicerçada sobre o cricóide, tem forma de escudo, e é a porção (em homens) que se projeta a partir do pescoço, o “pomo de Adão”. Os músculos intrínsecos da laringe são nomeados pelos nomes das cartilagens ao qual eles estão ligados, pois quando estes músculos se contraem, eles movem as cartilagens em relação um do outro e ao fazê-lo afetam a forma da glote. A glote é a abertura variável entre as pregas vocais. Estas pregas, compostas do tireoaritenóideo ou músculo(s) vocal(is) e uma camada de cobertura mucosa, incluindo o ligamento vocal, estendem-se desde a sua extremidade anterior fixa no ângulo da cartilagem tireóide à sua posterior nos processos vocais das cartilagens aritenoides. A glote pode ser medida em todo o seu comprimento, bem como em suas porções discretas.” (Tradução livre) – STARK, James. Bel Canto – A History of Vocal Pedagogy – Toronto: University of Toronto Press Incorporated, 1999. (eBook)
⁵ “O neurologista Barry Wyke explicou que o sistema motor que controla a fase pré-fonação pode ser programado para reduzir o intervalo de tempo entre a sintonização pré-fonação e fonação a tão pouco quanto 50 milissegundos em cantores treinados (Wyke 1980, 46-7). Talvez este seja o mais perto que se pode chegar a um verdadeiro ataque simultâneo.” (Tradução livre) -STARK, James. Bel Canto – A History of Vocal Pedagogy – Toronto: University of Toronto Press Incorporated, 1999. (eBook)

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