Nossa leitora N. Nogueira me perguntou qual a melhor respiração para o canto (com relação à cavidade por onde o ar deve entrar no sistema respiratório) já que não encontrou no blog essa informação. Essa nossa conversa, então, foi a inspiração para o post de hoje.
Tipos de inspiração
Levando em conta a cavidade ou as cavidades pelas quais o ar entra no sistema respiratório do ser humano, divide-se a inspiração como nasal (aquela feita apenas pela cavidade nasal), bucal ou oral (aquela feita apenas pela cavidade da boca) e a mista (feita por ambas cavidades).
Inspiração Nasal
O melhor tipo de inspiração do ponto de vista da qualidade do ar que chega aos pulmões é aquela feita apenas pela cavidade nasal, pois essa cavidade possui estruturas que preparam o ar para a chegada aos pulmões (e também à laringe e as pregas vocais).
“O nariz é a primeira parte das vias aéreas superiores e é responsável pelo aquecimento, umidificação e, de certa forma, pela filtragem do ar inspirado.” ¹
O ar é aquecido e umidificado na cavidade nasal pois, no processo, passa pelas conchas nasais. Esta é um região que, além de extremamente vascularizada, o que a deixa aquecida (já notou quanto sangue sai com uma até suave pancadinha no nariz?) e coberta por secreções, possui uma forma (cheia de voltinhas) que faz com que o ar ao passar pela cavidade tenha maior contato com a mucosa aquecida e úmida passando essas qualidades ao ar inspirado.
O ar é filtrado através das vibrissas (aqueles pelinhos no nariz) que impedem a entrada de partículas grandes e pelas viscosas secreções presentes na cavidade nasal que prendem partículas provenientes do ar inspirado. ²
Porém esse tipo de inspiração é bem lenta, pois o ar deve passar por todas as voltinhas das conchas (cornetos) deixando o caminho mais apertado. Essa inspiração deve ser a preferida em todos os momentos possíveis. Quais são os momentos onde ela não é possível? Aqueles onde a inspiração deve acontecer de forma rápida. Portanto, no dia a dia, prefira sempre a inspiração puramente nasal e, ao cantar, use-a sempre que possuir grandes pausas onde não há necessidade de rapidez na entrada no ar. Quando tiver que cantar em ambientes muito frios ou muito secos priorize a inspiração nasal também. [Caso perceba que não consegue respirar pelo nariz procure um otorrinolaringologista urgentemente, neste post deixei algumas indicações dos meus preferidos].
Inspiração Bucal
Já a cavidade da boca é ampla e permite a entrada de uma grande quantidade de ar de forma rápida mas sem nenhum aquecimento, umidificação ou filtro. Por essa razão é normal ver pessoas ao fazerem exercício físico intenso estarem usando apenas a inspiração bucal. Ela seria a mais indicada para a maior parte do canto, já que permite uma entrada de ar rápida, mas a ausência das qualidades promovidas pelo ar inspirado pela cavidade nasal vão causar um desgaste (rápida desidratação pela falta de umidade, choque térmico pelo ar não aquecido e contato com diversas impurezas não filtradas do ar) muito rápido do seu aparelho fonatório.
Inspiração Mista
É aí que entra, então, a inspiração ideal para o canto, que é a que chamamos de mista, onde usaremos ambas as cavidades para a entrada do a. Com isso, uma parte do ar continuará entrando aquecida, umidificada e filtrada enquanto outra parte entrará rápida produzindo a melhor relação custo-benefício para o uso de ambas as cavidades.
Para aprender a inspirar de forma mista comece inspirando apenas pelo nariz e depois vá abrindo a boca até sua abertura máxima. Continue pensando na inspiração pelo nariz, mas com a cavidade da boca também aberta o ar começará a entrar por ela também. Faça então o exercício da inspiração passiva com o foco na entrada do ar pelo nariz mas com a boca aberta e com esse treino transforme a inspiração mista em algo automático ao cantar.
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