Li um artigo de Marcelo Ferreira, barítono com quem já dividi o palco algumas vezes, sobre Talento Vs. Prática e gostaria muito de compartilhar com vocês, pois concordo plenamente com ele. Marcelo é cantor lírico, doutorando em Canto e Ópera pela Indiana University (EUA) e professor de canto, sendo responsável pelo Ópera Estúdio de Recife e pelo Estúdio de Canto Marcelo Ferreira (Recife).


Talento Vs. Prática

Ter voltado a dar aula de canto regularmente tem sido uma experiência muito interessante e que tem me levado a revisitar antigos conceitos e indagações. Um dos mais interessantes acredito ser a questão do talento inato.

O consenso científico é de que, se existe algum elemento de nascença que possa ser identificado como talento na sua concepção mais tradicional, este pouco tem a ver com performance de alto nível e só seria um diferencial no começo do aprendizado.

Então o que separa um profissional de performance de alto nível de um medíocre? Simples, mas não tão simples assim: Prática!

Mas se a necessidade inerente de ser do contra quando se está no Facebook lhe leva a perguntar: Então pq tem tanta gente que prática tanto e não atinge um alto nível de performance? Bem, aí é que a questão deixa de ser tão simples…

A questão do talento, principalmente no esporte e nas artes, tem atraído a atenção de diversos cientistas há já algum tempo. Um trabalho que é considerado um marco no assunto é o do psicólogo Sueco Anders Ericsson, e especificamente o artigo: The Role of Deliberate Practice in the Acquisition of Expert Performance (O papel da prática deliberada na aquisição de alta performance). Neste trabalho, após analisar alunos de violino da Academia de Música de Berlim Oriental, Ericsson derruba o mito do talento e prova que a diferença entre níveis de performance é essencialmente acúmulo de horas de prática. Mas a questão é: o que Ericsson chama de prática, não é necessariamente a definição mais ampla do termo.

Ericsson criou o termo “Prática Deliberada” para separar exatamente o que ele entende por prática da noção geral. Essa forma de prática tem características claras:

1 – Ela é DESENHADA especificamente para melhorar a performance;

2 – pode ser repetida muitas vezes;

3 – o feedback (resposta) quanto aos resultados está sempre disponível;

4 – é de alta exigência mental;

5 – não é muito divertido.

Agora pare e analise o que você tem feito e chamado de prática… Será que se enquadraria em todas essas características acima? Senão, sua prática só vai lhe levar até um certo ponto e estagnar. Prática deliberada não tem limites e vai sempre melhorar a sua performance, independente de que nível em que você se encontre. Então, o que eu repito incessantemente a meus alunos merece ser repetido mais uma vez: Ir para a frente do piano e simplesmente cantar uma série de exercícios vocais a exaustão é INEFICIENTE!

E se não é óbvio ainda, eu gostaria de tornar… Prática deliberada exige, em 99% dos casos, um PROFESSOR. E não qualquer um, mas um que entenda bem esse conceito e tenha conhecimento e capacidade analítica satisfatórios. A maioria das pessoas não tem conhecimento ou autocrítica suficiente para guiar uma prática deliberada eficiente. E mesmo que tenha, a questão do feedback, especialmente para o cantor, é sempre melhorada com a presença de um bom professor (ouvido externo).

Então, aí está… Vamos todos praticar… Mas deliberadamente, ok?

Happy Singing!

Marcelo Ferreira

P.S. – Para os nerds de plantão e para quem quiser se aprofundar mais no assunto, aqui está um link para o artigo do Ericsson:

http://projects.ict.usc.edu/itw/gel/EricssonDeliberatePracticePR93.pdf


Para ter aulas de canto com Tati Helene entre em contato aqui.

2 thoughts on “Prática Deliberada

  1. Também acho que talento é uma coisa fácil de achar que existe, mas difícil de se provar que existe.
    O que creio que existe são diferentes capacidades, características físicas e mentais. Um simples exemplo é a diferença de altura, estatura, entre duas pessoas uma com 1,40 m e outra com 2,0 m: é evidente que em atividades de alta performance em que a altura é determinante (esportes tipo basquetebol, voleibol, tenis etc) a pessoa mais alta terá mais facilidade que a menor. Por outro lado, existem, ainda no campo dos esportes, esportes onde está características física não tem a menor importância, como no futebol.

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