“Timbre: Som diferente de diversos instrumentos, embora da mesma altura e intensidade. “ – Dicionário Aurélio

A partir dessa definição do Aurélio já fica claro que o timbre é uma caracteristica sonora que nos permite distinguir um som do outro. Mas há uma questão quanto à terminologia: quando saboreamos diversos tipos de comida e bebidas usamos palavras como amargo, azedo, doce, salgado, etc para descrever a sensação gustativa que estamos vivenciando com aquele alimento, porém quando vamos descrever a sensação auditiva que um som nos passa, precisamos emprestar de outros sentidos palavras para podermos descrevê-lo, como por exemplo: suave, doce, pontudo, redondo, etc. Essa constatação já nos dá uma pista de como é complicado e pessoal classificar e descrever como é um som em relação ao timbre que ele possui. Com os instrumentos musicais essa distinção é bem mais clara do que no canto, já que um oboé é um oboé por ter uma característica física (como é construído, sua madeira etc) e um som característico. Claro que entre um oboista e outro haverá sempre uma diferença no som tirado do instrumento, mas seu timbre será sempre de oboé com pequenas diferenças timbristicas, que podemos chamar de cores.

No canto a coisa fica bem mais complicada, pois o instrumento do cantor não foi comprado pronto e precisa ser construído. Grande parte dessa construção envolve a composição do som produzido, manipulando as estruturas do trato vocal para produzir um conjunto de harmônicos selecionados (além da alteração na amplitude desses harmônicos e também no envelope sonoro que envolve a onda criada, mas por uma escolha didática mencionarei apenas os harmônicos). Isso não quer dizer que absolutamente tudo poderá ser construído. Uma parte dos harmônicos de cada pessoa é totalmente relacionado ao corpo que ela possui e não poderá ser manipulada. São estes harmônicos que vão nos permitir identificar quando é um determinado cantor que está cantando e não outro ao ouvir a sua voz. Mas algumas alterações nesse corpo podem (embora não obrigatoriamente)  alterar esses harmônicos nativos: gravidez, aumento ou perda significativa de peso, calcificação de cartilagens, etc.

O que nos faz identificar uma voz como bonita é exatamente o conjunto de harmônicos que aquele som possui ao ser emitido, e, como todo gosto, isso é totalmente cultural (os padrões vocais de certas culturas tribais sāo frequentemente considerados feios ou incômodos para o gosto ocidental, sendo tidos como absolutamente belos pela tribo). Mesmo em um mundo globalizado e com uma cultura mais generalizado ainda podemos perceber que determinados povos gostam mais de determinados timbres vocais. Quando morei na Itália, por exemplo,  eles sempre diziam que preferiam vozes com sons più morbidi (mais macios) por exemplo.

Na música popular o conjunto de harmônicos desejados para cada estilo de canto pode ser bem diferente tanto por uma questão de estilo propriamente dito quanto por uma questão de gosto pessoal do próprio cantor. Já no canto lírico não se tem tanta liberdade de escolha, pois a necessidade de preencher com a voz um teatro sem amplificação exige o uso de determinados harmônicos para que esse som atinja uma eficiência na amplificação associada a um determinado tipo de cor na voz característico do estilo da voz lírica.

Para que estes determinados harmônicos estejam presentes no som de um cantor lírico este deve manipular (posicionando de determinada forma) diversas estruturas do trato vocal, ou seja, ele os conseguirá através da posição correta. Com esta posição correta a onda sonora, além de já ser produzida de uma determinada maneira e com determinados harmônicos, será “direcionada” para os ressoadores, e neles outros harmônicos serão “adicionados” ao som. Esse processo é chamado também de filtro sonoro (feito pelo trato vocal) para o som produzido na laringe, que nessa terminologia é chamado de fonte sonora.

Nunca imite um movimento de outro cantor, cada instrumento é diferente

e pode ter diversas alterações devido a conformações musculares próprias.

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