Hoje voltarei a falar sobre o posicionamento da língua. É de suma importância que antes do post de hoje vocês já tenham lido o post A língua e que também já tenham retirado toda a tensão excessiva desses músculos.
Um dos objetivos da técnica do canto lírico é a homogeneidade do som. Isso, como eu já comentei no post Canto Lírico não é natural, não é algo natural e também não é o que fazemos durante a fala. Nossa língua, por exemplo, se posiciona de formas diferentes durante as mudanças de vogais e esse seu posicionamento altera o espaço entre o palato mole e a parte mais alta da língua. As variações de tamanho desse espaço resultam em alterações nos harmônicos produzidos, pois “direcionam” a vibração para determinadas partes dos ressoadores.
Para mantermos uma homogeneidade de harmônicos e ressonância nas diferentes vogais, temos que manter o espaço entre o palato mole e a parte alta da língua constante. Ou seja, é necessário escolher a posição de língua de uma única vogal e mantê-la nesta posição durante as outras vogais, fazendo sua caracterização principalmente com os músculos da face (lábios).
Nas seguintes figuras podemos ver a posição da parte alta da língua durante as vogais do português (menos as nasais)¹. A posição de língua que eu recomendo por ser a de melhor ganho harmônico é a da vogal [i].
Para ser capaz de fazer isso, treine com o exercício do ataque das pregas vocais focando sua concentração em manter a língua da posição do [i] nas outras vogais (atenção: só faça esse treino caso já tenha dominado esse exercício em relação ao posicionamento das pregas vocais, pois tentar fazer tudo ao mesmo tempo dificultará muito o aprendizado). Depois mantenha-se focado em manter essa posição da língua durante o canto como um todo, em toda a tessitura inclusive.
Porque ninguém fala sobre isso?
Nunca podemos esquecer que a ópera foi criada na Itália e possui imensas influências da língua italiana. O idioma italiano possui vogais semelhantes ao português mas na verdade bem diferentes. Mesmo possuindo a mesma transcrição fonética, a realidade é que as vogais italianas não são as mesmas que no português e a maior diferença está exatamente no posicionamento da língua ao fonar cada vogal. No italiano a língua fica em geral na posição do [i] brasileiro em todas as vogais, o que faz com que a ressonância da fala do italiano seja praticamente a mesma que a do canto lírico. Daí a máxima “si canta come si parla” tanto usada no estudo do canto lírico, caso você fale italiano isso realmente deve ser verdade, mas para falantes naturais de outras línguas isso não se aplica e portanto é necessário posicionar a língua de forma consciente.
É importante lembrar: este detalhe (muito importante) da técnica do canto deve ser trabalhado depois de muitos outros pontos que devem estar dominados, a começar pela retirada da tensão da língua e o seu correto posicionamento horizontal (tratado no primeiro post sobre língua, leia aqui).
Nunca imite um movimento de outro cantor, cada instrumento é diferente
e pode ter diversas alterações devido a conformações musculares próprias.
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