Para entender aquilo de que vou falar hoje é bem importante ter dois conceitos, sobre os quais já falei anteriormente em outros posts, bem claros: que o canto lírico não é algo natural, ou seja, de que a sua execução é um esforço físico e dos grandes, e que eu divido a técnica de canto entre Standard X Recursos. (Dê uma lida nesses posts se os conceitos ainda não estão claros 😉 ).
Uma situação pela qual tenho certeza que todos os cantores já passaram é a de cantar uma frase separada da música e ela sair perfeita, depois cantar a mesma frase no meio da música e ela não estar boa. Por que isso acontece?
Vamos por partes:
- Ao cantar é normal acumular tensões no corpo pois, em função do esforço físico exigido (que é alto) o corpo acumula tensão;
- Essa tensão vai se acumulando como se fosse um placar que fosse girando e aumentando infinitamente, até um ponto onde os músculos não conseguem mais executar suas funções corretamente;
- Então o corpo para de responder aos movimentos técnicos;
- E a qualidade do som se perde;
Por isso a frase isolada foi executada com facilidade, pois não havia acúmulo de tensão. Já no meio da música o acúmulo é alto e a qualidade do som se perde.
Como resolver?
A primeira coisa a se fazer é acumular a menor quantidade de tensão, para executar o som com a maior qualidade possível. Para isso é importante que as técnicas standards (principalmente as de respiração) estejam sendo usadas e que qualquer tensão reflexa tenha sido eliminada (leiam mais sobre isso no post onde divido a técnica em partes).
É claro, no entanto, que as técnicas que chamo de recursos são muito importantes no canto e que elas serão usadas. Ao usá-las, é importante ter consciência de que. dependendo do movimento técnico, o acúmulo da tensão será maior.
O equilíbrio do quanto de standard e o quanto de recursos será usado deve levar totalmente em conta esse acúmulo de tensão e a sua capacidade e possibilidade de liberá-la. Por exemplo: antes de um agudo muito longo evite fazer frases longas, pois a frase longa acumulará tensão que poderá prejudicar sua capacidade de segurar o agudo o tempo que deseja.
Então, o mais importante é zerar o placar da tensão.
Para fazer isso existe uma forma standard, uma das primeiras técnicas das quais falei aqui no blog, que é a inspiração passiva.
Quando o acúmulo de tensão chega a um certo ponto, porém, para fazer uma inspiração passiva efetiva pode ser necessário mais tempo do que o normal. Caso isto ocorra na frase final de uma música ou em uma frase antes de um trecho razoável em que você não precisa cantar (parte instrumental, parte de outro cantor, etc) é possível usar diversos recursos e aumentar significativamente o acúmulo de tensão, pois depois você terá tempo suficiente para que a sua inspiração passiva ocorra, zerando o placar. O problema será quando esse acúmulo de tensão passar deste limite e não houver na música tempo suficiente para que a inspiração passiva ocorra. Quando isso acontecer, é a hora de usar um recurso chamado Inspiração Forçadamente Relaxada.
Nunca imite um movimento de outro cantor, cada instrumento é diferente
e pode ter diversas alterações devido a conformações musculares próprias.
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